Textos

Acho que um miniblog ou algo assim?


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2023.V.31

"To every thing there is a season, and a time to every purpose under the heaven:
A time to be born, and a time to die;
a time to plant, and a time to pluck up that which is planted;
A time to kill, and a time to heal;
a time to break down, and a time to build up;
A time to weep, and a time to laugh;
a time to mourn, and a time to dance;
A time to cast away stones, and a time to gather stones together;
a time to embrace, and a time to refrain from embracing;
A time to get, and a time to lose;
a time to keep, and a time to cast away;
A time to rend, and a time to sew;
a time to keep silence, and a time to speak;
A time to love, and a time to hate;
a time of war, and a time of peace.
What profit hath he that worketh in that wherein he laboureth?
I have seen the travail, which God hath given to the sons of men to be exercised in it.
He hath made every thing beautiful in his time: also he hath set the world in their heart, so that no man can find out the work that God maketh from the beginning to the end.
I know that there is no good in them, but for a man to rejoice, and to do good in his life.
And also that every man should eat and drink, and enjoy the good of all his labour, it is the gift of God.
[...]
Wherefore I perceive that there is nothing better, than that a man should rejoice in his own works; for that is his portion: for who shall bring him to see what shall be after him?"

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Os tempos como os espaços


2023.III.30

Dois anos de tilde já. Minha vida mudou relativamente pouco num sentido prático, mas paro pra pensar naquele março de 2021 e fico feliz em como ele está longe, longe.

O tilde não me gerou nenhuma interação nova, coisa que não esperava propriamente daqui, mas que teria sido interessante. De qualquer modo agora já sei que essa página é uma espécie de álbum pessoal, onde posso ir colecionando coisas que me são queridas. Uma espécie de pequeno museu privado numa portinha de uma rua pouco movimentada.


2022.X.17

Bom demais vasculhar a Iugoslávia dos anos 50 e achar pedaços da Inglaterra dos anos 70; ou vasculhar Tchecoslováquia anos 30 e achar Argentina anos 60

Eu acredito demais no modernismo como um fluxo vital que atravessa todos esses lugares e tempos e alimenta o aqui e agora

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Disciplina ou certa forma de rigor auto-imposto é importante, mas palavras enganam. A vida não cresce com títulos, avaliações, métricas de eficiência abstrata; mas sim com tempo e calma. O rigor verdadeiro é a paciência e o respeito dados aos tempos de fermentação e maturação das coisas


2022.VIII.18

O Brasil, se é um sentimento, é uma tristeza profunda sentida pelo que podia ser e nunca foi, ao mesmo tempo que é uma imensa alegria por ser tudo o que é


2022.VII.28

Sinto que um monte de coisas que sempre estiveram pairando na minha mente estão se condensando na minha vida concreta.

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todo dia alguma pessoa descobre alguma coisa bonita

meu objetivo de vida é ser essa pessoa


2022.III.17

Quase completando um ano este meu espaço no tilde. Felizmente estou longe, bem longe do estado de espírito em que estava quando comecei. Por outro lado ainda não sei bem a finalidade disso aqui, escrevo pra todos e pra ninguém acho (ou seja, pra mim)

Guerra é uma coisa bestial. Estou mantendo a maior distância possível daquilo.

Tierra del Fuego é um lugar sagrado. Espero voltar pra lá um dia, mas mesmo que não volte trouxe aquelas montanhas dentro do peito ("i am overwhelmed lately by how abundant my life is").


2022.I.09

Passando as festas e o começo de 2022 no Brasil, nos lugares da minha infância e adolescência. Cada vez que venho vejo esses lugares com outra luz, e com cada vez mais estranheza também. Gosto muito disso, acho o familiar (a sensação de familiaridade) monótono, até morto.

Outro dia (outro mês) anotei num caderno que excesso de proximidade gera o kitsch, excesso de distância gera exotismo. A densidade se gera com a alternância: tomar distância, ver de longe, saltar e mergulhar na coisa; olhar no microscópio, estudar minuciosamente e atirar para longe.

A fé que declarei vários meses atrás (2021.V.24) veio disso. Uma noite/madrugada de quinta-feira numa praça conhecidíssima, mas mergulhado em estranhamento e sem distrações (o familiar, a rotina, o dinheiro: grilhões).


2021.X.14

In vino veritas! Lo que vino se va

Y así llego acá, escribiendo sin plan, bajo la influencia de la frustración de un trabajo de la facultad y una botella y media de vino.

Venho pensando sobre criação, e de verdade mesmo com todo meu gosto e meu apego à Argentina (que tem seu valor como montagem dramática do europeu, latinos fazendo teatro de europa), o centro é o Brasil mesmo. O Brasil que pode ser, luzeiro do mundo, reserva florestal.


2021.X.06

Dia de pensamentos soltos!

O compositor com a vida mais exemplar foi o Pérotin, porque dela nada se sabe.

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"Tudo me é lícito, mas não tudo me convém", disse o São Paulo. Coisa que tá certa mas mal-expressada, porque ele não era realmente homem-santo/artista, era um advogado de cristo sem imaginação (a fonte do cristianismo como auto-ajuda corporativa tá no Paulo). Tudo posso mas tem coisas que não me servem é verdadeiro, mas a forma correta de dizer tem que ser afirmativa: tudo posso e muita coisa me convém. Escrever isso seria subversivo demais pro advogado, por isso a ênfase em dizer "você pode tudo, mas olha lá hein, seja realista, tenha cautela", ou "somos livres, mas não tanto".

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Até dá pra dizer que nós, latinos, somos "herdeiros da civilização ocidental". Só é preciso ter em mente que "herdeiros da civ..." é um eufemismo para "vivemos no meio do entulho que os ibéricos largaram aqui quando levaram embora o ouro".

"Mas por ignorância ou não, qualquer reação contra Portugal me parece perfeitamente boba. Nós não temos que reagir contra Portugal, temos é de não nos importarmos com êle." - Mário de Andrade


2021.X.03

Ainda um excesso de ego. É preciso buscar o mínimo, sem comprometer a expressão.


2021.IX.21

Bastante tempo sem acrescentar nada aqui. Felizmente não tenho tido muito a dizer mesmo, a vida fluiu mais nestas últimas semanas.

Sim comentar algo de umas postagens anteriores, o "mundo" não é errado não, o problema é desconectar-se dele.

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Outro tema. Do Wittgenstein, "appreciating music is a manifestation of human life" no original aparece como "Das Verständnis der Musik ist eine Lebensäußerung des Menschen."

Sou bem incompetente com o alemão, mas a tradução em inglês tem uma coisa meio passiva (escuta como uma coisa que está/acontece na vida). Uma tradução melhor talvez fosse "desfrutar música é uma forma pela qual a vida humana se faz enunciar" (escuta como encarnação da vida).


2021.VI.06

Recém descobri (por conta desta peça do Steve Reich) um compilado de anotações do Wittgenstein, traduzidas para o inglês e publicadas com o nome Culture and Value. Ontem (hoje de madrugada) li quase metade do livro. Eu ignoro quase totalmente a filosofia do Wittgenstein (exceto por uma ideia muito superficial do que se trata), mas me senti profundamente identificado com algumas questões pessoais dele. Mais que nada pela relação que ele mesmo tem com o Mendelssohn.

"Mendelssohn is like a man who is cheerful only when everything is cheerful anyway, or good only when everyone around him is good, & not self-sufficient like a tree that stands firmly in its place, whatever may be going on around it. I too am like that & tend to be so."

"What is lacking in Mendelssohn's music? A 'courageous' melody?"

E lendo o Wittgenstein vejo nele as mesmas dúvidas que tenho, a sensação de falta de originalidade, uma certa distância da vida concreta que ele tenta encurtar, a luta por superar barreiras entre ele e a experiência (principalmente pela música me parece, "appreciating music is a manifestation of human life"). Obviamente ele morreu fazem décadas, mas ter acesso a esses pensamentos mais pessoais fez com que eu me sentisse acompanhado, coisa que não sinto há algum tempo.


2021.V.31

Existem momentos em que fica particularmente claro pra mim o quão errado é este mundo, e o quanto eu vivo mal. Digo isto me atendo à profissão de fé que fiz uns dias atrás aqui. É tão fácil cair na mesquinhez do falso cotidiano, na ansiedade pelas contas, na ganância, no desejo.

Em certo sentido eu sei o que deveria fazer, abrir mão de tudo e abraçar a mágica do mundo, uma coisa cristã mesmo, vender tudo, dar aos pobres e seguir a verdade. Mas não sou santo.

Além do quê eu tenho fé em outras coisas, na beleza de projetos da racionalidade, na abstração, no planejamento. Esse é um lado meu que já conheço bastante, se tenho insistido tanto na fé na experiência é pela busca de certo equilíbrio.


2021.V.24

Minha religião é a experiência sensível do mundo. Os locais sagrados para mim são aqueles em que é possível vislumbrar partes da Máquina do Mundo do Drummond, os rituais são os momentos em que estas partes se revelam. Pode ser uma praça deserta às 23 horas de uma quinta-feira, podem ser os 5 minutos de caminhada no meio da tarde debaixo de chuva, pode ser uma viagem de várias horas por uma BR.

No entanto é inegável a primazia da noite, verdadeiro milagre de transubstanciação. Aquele ponto de ônibus durante o dia é somente um ponto de ônibus, banalidade justificada por sua funcionalidade como ponto de espera e passagem de pessoas, elas mesmas banais e passageiras (naquele contexto). A noite remove este véu do útil, do funcional, e revela aquele local como o que realmente é, milagre da existência. Na meia-luz e na escuridão a imprecisão das formas leva a infinitas bifurcações de significado, incontáveis portas a mundos novos e ao aprofundamento dos mundos já conhecidos


2021.IV.07

I was writing, occupied, distracted with thoughts and toil, when a visiting noise crossed the glass panes of my window. The sun light had not receded, making the water drops falling in the leaves of my garden all the more special.

I was immersed in the rumour of the rain. And as I came back to myself, simpler, purer ideas crossed my mind.

I felt happy


2021.IV.05

"aquilo q o pessoal chama de originalidade e dá um peso fudido na vdd chama 'minha posição nesse sistema de valoração universitário, que por sua vez é minha coisa da auto-estima'.originalidade mesmo é um fazer-com-felicidade, e felicidade é transmissão contínua entre ser e mundo"
@notaspradiscos(grifo meu)


2021.IV.02

En un invierno
Apareció el amor
Como un jardín

En un verano
Al final la cobranza
Como un alquiler

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"[...] a man is rich in proportion to the number of things which he can afford to let alone."
- Henry David Thoreau


2021.IV.01

Hoje me deparei com a constatação que a pandemia não vai ter fim. Não tem vitória, não tem celebração possível, só horror, e lenta constatação desse horror. Em um primeiro momento é um horror individual, ter consciência de que a vida é isto agora: as pessoas são um risco, a rua é um risco e somente uma parede muito fina (ainda que frequentemente opaca) nos separa dos hospitais lotados, das pessoas entubadas em corredores, dos enterros sem testemunhas.

E esse horror já é suficiente como matéria prima de várias noites de insônia, pesadelos, ansiedade. Mas acredito que há um horror ainda maior, um horror coletivo. Um horror que é dar-se conta de que estamos presenciando uma hecatombe. Centenas de milhares, provavelmente milhões de mortos, como bombas nucleares caindo em Hiroshima por anos a fio. Mas tudo isso com uma banalidade, uma cotidianeidade que se for suficientemente deliberada se torna insuportável.

Porque é dor e sofrimento em uma escala que não estamos preparados para ver revestida da mais absoluta indiferença. Como ver uma pessoa ser sufocada até a morte na nossa frente e ter por obrigação seguir normalmente o dia, como se não houvesse nada acontecendo.


2021.III.31

Tudo quanto é coisa da vida me dói profundamente. Faz tempo estou mergulhado em uma noite que não termina. A pandemia, é claro, tem muito que ver com tudo isso, e no princípio estar em quarentena até era uma noite azul de verão. Mas faz tempo minha visão perdeu todo senso de profundidade: uma noite sem perspectiva, toda informação comprimida em um mesmo plano, denso e opressivo.

Or as said ~sippey (probably in a more positive vein):


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